A posição do Brasil como um líder em celulose de fibra curta é um fato consolidado
A estimativa de produção total de celulose alcançou o patamar de 22,5 milhões de toneladas em 2021, segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), dos quais estima-se que de 85% a 90% sejam de celulose de fibra curta. A perspectiva é de que estes volumes continuem sendo ampliados.
Com os novos projetos industriais, que estão em fase de ramp up de produção, em conclusão das obras, em construção ou em desenvolvimento, a expectativa é que a capacidade instalada total de celulose ultrapassará 30 milhões de toneladas até 2030, sendo que, praticamente, toda esta ampliação será proveniente da celulose de fibra curta.
Evolução da Produção de Celulose no Brasil
Fonte: Dados históricos Ibá até 2021+ projetos concluídos e em construção entre 2022 e 2024 + estimativa Pöyry para celulose de fibra curta entre 2025 e 2030.
O crescimento sustentável da indústria de celulose nacional
Os investimentos em novos projetos de celulose proporcionam inúmeros benefícios econômicos, sociais e ambientais para o Brasil.O investimento em uma planta estado da arte com capacidade de produção de cerca de 2,5 milhões de toneladas por ano demanda, ao câmbio atual, recursos superiores a R$ 20 bilhões distribuídos entre a fábrica, melhoria de infraestrutura e formação da base florestal.
Além disto, o setor tem uma importante participação na balança comercial brasileira. Durante a fase de construção, mais de 10 mil empregos diretos são gerados e, posteriormente, milhares de empregos diretos e indiretos para a operação. As florestas plantadas contribuem para a preservação de florestas nativas e sua biodiversidade e, consequentemente, para o armazenamento de carbono.
Brasil – um líder em movimento na produção de celulose de fibra curta
O desafio que se apresenta nesse cenário, contudo, é a oferta de madeira de eucalipto para alimentar a produção de celulose que sustente o crescimento da capacidade nacional, especialmente diante de mudanças na situação do mercado de madeira de eucalipto em todo o país registradas nos últimos meses. O consumo de madeira de eucalipto para outros usos, que não a produção de celulose, segundo estimativas da Pöyry, representa hoje cerca de 60% do consumo total desta madeira no Brasil, destinada principalmente à produção de carvão vegetal (consumido como agente redutor pelo setor metalúrgico) ou como biomassa para a geração de calor para vários processos industriais.
Essa crescente demanda por madeira industrial vem acompanhada do aumento dos custos de colheita e transporte, o que tem contribuído, de forma expressiva, para um maior custo da madeira nas diversas regiões do país. Portanto, com o objetivo de identificar se existem condições para o início de novos ciclos de expansão industrial, a Pöyry analisou a disponibilidade de madeira de eucalipto, com dados regionais. A conclusão foi a de que, para sustentar um novo ciclo de investimentos em projetos de celulose de fibra curta, será necessário ampliar a base florestal, visto que a base existente não será suficiente ou apresentará desafios de mobilização.
Balanço de madeira de eucalipto no médio prazo e necessidade de ampliação das florestas
O aumento da produção de celulose de fibra curta no Brasil foi possível ao longo do tempo graças à competitividade de nossa madeira (devida à alta produtividade e excelência das operações florestais), e à ampliação da base de plantios de eucalipto, que, de acordo com o Ibá, atingiu 7,47 milhões de hectares em 2020. Considerando que as novas fábricas de celulose de fibra curta, que entraram e entrarão em operação no país entre 2020 e 2025, adicionarão uma capacidade de produção de aproximadamente 7 milhões de toneladas ao ano, a Pöyry estima que haverá um consumo adicional de cerca de 28 milhões a 30 milhões ao ano de metros cúbicos de madeira de eucalipto com casca. Colher anualmente esse volume adicional de madeira equivale ao plantio de 0,8 a 1 milhão de hectares.
Para a adição de somente uma fábrica de celulose de fibra curta branqueada entre 2025 e 2030, com capacidade de 2,5 milhões de toneladas, o consumo adicional de madeira seria de 10 milhões a 11 milhões ao ano de metros cúbicos de eucalipto, e o plantio adicional necessário, de aproximadamente 300 mil hectares.
Existem diferenças expressivas entre os principais estados, regiões e polos florestais do país, como apresentamos a seguir:
Bahia e Espírito Santo
As mudanças climáticas têm alterado o regime de precipitação dessa região, impactando a disponibilidade de madeira. Os players locais têm adotado inovadoras tecnologias florestais para se adaptarem a esta nova realidade, o que, em conjunto com um abrangente monitoramento climático, traz maior eficiência aos processos de manejo florestal. Isso tem resultado em equilíbrio entre a oferta e a demanda de madeira. Existe disponibilidade adicional de madeira na região Oeste do estado da Bahia, porém a produtividade é relativamente baixa, e a logística para escoamento da produção de celulose é complexa.
Centro e Leste de Minas Gerais
Excluindo as áreas das indústrias verticalizadas de celulose, metalurgia e de alguns fundos de investimento, a oferta não comprometida pertence a produtores independentes, com pequenas áreas e dispersão geográfica muito grande. Adicionalmente, por falta de investimento em silvicultura (na ausência de mercado) e devido aos problemas de seca registrados desde 2014, a produtividade atingida por muitos destes produtores é baixa. Por fim, com a depreciação do Real e, mais recentemente com a redução da participação da Rússia e da Ucrânia no comércio internacional de ferro-gusa, a produção deste material por produtores independentes está aumentando, e a demanda total por madeira de eucalipto na região cresceu, aproximando-se da oferta.
Goiás e Mato Grosso
Quando excluídas as áreas florestais das indústrias verticalizadas de metalurgia e agronegócio, constata-se que a aparente disponibilidade remanescente pertence a produtores independentes, com pequenas áreas e dispersão geográfica muito grande, o que torna desafiadora a mobilização para se obter um volume expressivo de madeira de eucalipto capaz de abastecer uma nova planta de celulose.
Mato Grosso do Sul
A maior parte da madeira útil para plantas de celulose já está comprometida. Os dois produtores de celulose do estado, que são responsáveis pela maior parte do consumo e pela maior parte da oferta, são, juntos, proprietários de mais da metade das florestas, e possuem contratos de longo prazo com os principais produtores independentes e fundos de investimento. Destaca-se ainda o fato de que as florestas de pequenos proprietários são tipicamente dispersas geograficamente e, muitas vezes, têm produtividade relativamente baixa. Portanto, qualquer novo player que ambicione consumir madeira proveniente desse estado deverá resolver a difícil equação de como acessar essas áreas e, simultaneamente, estabelecer uma ampla base florestal. Em comunicados públicos, a Suzano anunciou investimentos expressivos em florestas, e que já possui 100% da madeira necessária para início da produção do Projeto Cerrado em 2024. A Arauco, que recentemente anunciou o projeto Sucuriú no estado, planeja a nova planta para 2028, necessitando ainda de aprovação do conselho de administração e dependendo de condições precedentes, entre elas a disponibilidade de madeira.
Paraná e São Paulo
Novas plantas entraram em operação em 2021. No Paraná, a estimativa é que a oferta de madeira já esteja em equilíbrio. Em São Paulo, existe hoje um déficit, mas o balanço entre a oferta e a demanda de madeira se equilibrará com o tempo, a medida que a ampliação da base florestal acontecerá nos próximos anos. Nestes dois estados, eventuais futuras expansões e alterações da produção industrial de celulose deverão ser acompanhadas de planos de expansão florestal adequados.
Rio Grande do Sul
Há disponibilidade de madeira no estado, porém não suficiente para uma nova fábrica, a menos que a base florestal seja ampliada a partir de novos plantios.
Santa Catarina
Há um pequeno superávit de madeira de eucalipto no estado, mas a competição entre florestas e lavoura tem sido forte, e a tendência é uma lenta redução das áreas de florestas plantadas.
Triângulo Mineiro
O início da operação de uma nova fábrica noTriângulo Mineiro trouxe equilíbrio aomercado desta região.
Conclusão
Considerando a adição das novas capacidades que entraram recentemente em operação ou que se encontram em construção, o Brasil continuará a ser protagonista no mercado global de celulose de fibra curta. No entanto, considerando que o ciclo de corte do eucalipto é de 6 a 7 anos, projetos que não possuam base florestal disponível, ou contratos firmes de fornecimento de madeira, devem começar imediatamente a constituir tal base para início da produção a partir de 2028.
A Pöyry participa do desenvolvimento do setor florestal brasileiro
A Consultoria Florestal da Pöyry apoia as empresas e os investidores presentes ao longo de toda a cadeia de base florestal no Brasil. Aliando um profundo conhecimento do mercado às capacidades multidisciplinares de nossos especialistas no Brasil e das equipes internacionais, fornecemos soluções integradas, inovadoras e eficazes, que atendem a uma série de necessidades, começando por boletins de preços de madeira, estudos de mercado, planos de abastecimento de madeira, avaliação de ativos e digitalização das operações florestais. Nossa atuação inclui ainda serviços de due diligences e inventários, análises de oportunidades industriais, benchmark e análises de competitividade, assessoria para venda ou compra de ativos, e estimativas de estoque de carbono e elegibilidade para créditos de carbono, acelerando a transição para uma sociedade mais sustentável.
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