Por Rodrigo Brisighello, Head de Negócios da Divisão de Indústrias de Processo da AFRY Chile.
A realização da COP26 (26ª Conferência sobre Mudanças Climáticas), que mobilizou chefes de Estado, ministros de meio ambiente, cientistas, ativistas e outras personalidades, além de representantes do setor empresarial, durante duas semanas de intensos embates, conseguiu definir a meta de redução das emissões de CO2 em 45% até 2030, com o objetivo de limitar o aumento da temperatura a 1,5°C e impedir que o aquecimento global avance e as mudanças climáticas dele decorrentes.
Se os países tomarão as medidas necessárias para que essa meta seja atingida, é o que veremos daqui para frente, e os próximos 18 meses serão cruciais, em face da necessidade de que os principais emissores de CO2 exponham quais serão suas políticas e planos nessa direção.
Avançar rumo a uma economia global com baixa emissão de carbono é uma tarefa, contudo, que envolve não apenas governos e organizações, mas que requer a participação direta do setor empresarial como responsável também por essa transformação – e em sintonia com o apelo, feito na COP26, para que novos planos e ações sejam acelerados de forma voluntária.
O consumo de combustíveis fósseis foi apontado no encontro como a principal causa da emissão de CO2, e ele deve ser um dos focos dos governos e empresas, com a substituição por fontes renováveis de energia. Mas a redução das emissões envolve outros aspectos que devem ser considerados pelas empresas, por exemplo, ao implantar uma nova unidade ou mesmo reformar uma planta industrial, devem ser observados aspectos como a gestão de resíduos tanto durante a obra e como na operação, o fomento das comunidades próximas, a cadeia logística, entre outros.
Gerenciar uma indústria para que obtenha maior produtividade e flexibilidade passa pela implementação de tecnologias que garantam uma boa gestão dos recursos naturais, a eliminação de resíduos na cadeia de valor, a maior utilização de combustíveis renováveis, inclusive com a implantação de sistemas de geração de energia baseados no aproveitamento de seus resíduos industriais para promover uma economia circular, além da adoção de tecnologias verdes e da transformação digital.
Nesse sentido, a engenharia, cuja premissa é assegurar uma operação sustentável, é uma forte aliada da indústria, planejando desde o início a forma com que ela poderá reduzir suas emissões de maneira eficaz. Este pode ser o ponto de partida para as indústrias dos mais diversos setores avançarem rumo à descarbonização. E isto não implica perda de produtividade, mas sim a instalação de sistemas, equipamentos e processos mais eficientes sob o aspecto ambiental. A sustentabilidade não implica produzir menos, mas obter maior eficiência operacional ao mesmo tempo que se preserva a energia e os recursos naturais.
O setor empresarial chileno tem adotado medidas concretas nessa direção, em especial setores como o de Mineração e o de Celulose e Papel. Na indústria de celulose, por exemplo, a autossuficiência energética é alcançada por meio de biomassa, obtida a partir de fibras de madeira plantada, solução sustentável que temos ajudado a implementar de forma bem-sucedida na América Latina, reforçando da papel sustentabilidade na indústria de base florestal da região. Além disso, há muitas oportunidades dentro das plantas industriais atualmente para a obtenção de outras fontes de energia renováveis como por exemplo hidrogênio verde.
Não resta dúvida de que as lideranças empresariais devem assumir compromissos para reduzir a pegada ambiental, tendo como aliada a engenharia sustentável, que pensa todo o processo e a operação. Se quisermos reduzir as emissões, para que as metas da COP26 se tornem realidade, é fundamental que cada empresa dê sua contribuição de forma voluntária, para que, no futuro, seja possível frear o ritmo das mudanças climáticas e das catástrofes que assolam regiões de todo o planeta. Isso, sem dúvida, se reverterá em ganhos não apenas ambientais, mas sociais e econômicos para todos os agentes econômicos.