* Por Mikael Maasalo, traduzido e adaptado.
A digitalização há muito tempo é uma palavra da moda nas indústrias de energia e de processos, mas os resultados das iniciativas digitais têm sido variados e nem sempre bem-sucedidos. Contudo, isso está mudando rapidamente à medida que a compreensão geral sobre como implementar estratégias de digitalização industrial se torna mais clara.
A era da experimentação digital acabou: é hora de obter resultados concretos operando plantas industriais de forma mais lucrativa e eficiente, ao mesmo tempo em que se avança rumo a operações autônomas.
O “purgatório” dos pilotos digitais
Nos últimos anos, inúmeras novas ferramentas e sistemas digitais foram conectados a processos industriais, tanto em plantas em operação quanto em projetos greenfield – e a tendência é que isso continue. Enquanto o número de soluções diferentes cresce, a complexidade do cenário digital também aumenta. Muitas empresas relataram que sua situação começou a se tornar quase caótica; elas possuem ferramentas, sistemas e plataformas demais, e gerenciá-los de forma eficaz é quase impossível. Além disso, os custos com licenças e serviços começaram a sair do controle.
Quando o proprietário do ativo não possui uma arquitetura digital sólida nem padrões e governança adequados para seus dados e sistemas digitais, os fornecedores externos tendem a se beneficiar do desenvolvimento digital por meio de taxas de licenciamento inflacionadas. No pior dos casos, o proprietário do ativo pode até perder o controle dos próprios dados, e os fornecedores terão o maior prazer em vendê-los de volta – mediante uma taxa adicional.
Esses problemas podem, de fato, ser resolvidos: é possível projetar uma arquitetura digital de forma que o proprietário do ativo mantenha total controle de todo o seu desenvolvimento digital. No entanto, isso não faz parte da engenharia convencional, podendo ser facilmente negligenciado.
Ainda assim, este cenário está prestes a mudar: as empresas líderes se tornaram mais conscientes sobre digitalização industrial e começaram a exigir que ela seja incluída como parte integrante dos projetos de engenharia, como uma nova disciplina.
Digitalização industrial: plantas autônomas com operações otimizadas
As empresas líderes dos setores de energia e processos querem que suas novas plantas sejam supervisionadas de forma remota e centralizada, operadas e mantidas de maneira eficaz utilizando as melhores soluções digitais, bem como estejam no processo de tornar as operações autônomas.
Esses objetivos provavelmente se tornarão requisitos-chave para qualquer planta, seja ela greenfield ou em operação. Entretanto, alcançar essas metas exige uma mudança na forma como as plantas industriais são projetadas atualmente.
Negócios em primeiro lugar!
No contexto digital, é evidente que a experimentação precoce com novas tecnologias nem sempre teve sucesso, e muitas iniciativas fracassaram financeiramente. Mesmo assim, desperdiçar dinheiro com desenvolvimento digital não deve mais ser tolerado.
O trabalho de digitalização deve sempre começar com a definição dos KPIs de negócio. Todos os casos de uso digitais devem estar vinculados a pelo menos um KPI de negócio, de modo que fique sempre claro qual será o impacto financeiro.
A digitalização industrial não tem sucesso sem a Fundação Digital
É relativamente fácil elaborar uma longa lista de use cases digitais. O que costuma faltar nos escopos de projetos de engenharia e em estratégias para plantas existentes é a chamada Fundação Digital (Digital Foundation).
Para realizar um desenvolvimento digital ágil, há muitos elementos que não fazem parte da engenharia convencional: instrumentos de campo adicionais, armazenamentos de dados, integrações, modelos de dados, softwares de plataforma, especificações para governança de dados e assim por diante. Tudo isso precisa ser projetado, especificado e implementado para se alcançar resultados adequados e, finalmente, iniciar a jornada rumo a uma planta autônoma e plenamente madura digitalmente.
No contexto da engenharia, trata-se de um custo adicional relativamente pequeno em um projeto, mas extremamente caro de implementar com a planta já em operação.
Navegando pelo hype: concretizando o potencial da IA na eficiência industrial
As aplicações de inteligência artificial terão um grande impacto na eficiência operacional das plantas industriais, porém seu hype ainda não se materializou em avanços concretos.
Embora muitas aplicações de IA sejam relativamente rápidas de desenvolver, elas dependem tanto da disponibilidade quanto da qualidade dos dados, assim como qualquer outro caso de uso digital. A IA é apenas uma das ferramentas dentro da caixa de ferramentas digital, e os mesmos erros devem ser evitados como em qualquer outro trabalho digital: lembre-se de vincular todos os casos de uso de IA ao desempenho do negócio e não permita que os fornecedores colham sozinhos os frutos de todo o bom trabalho.
Digitalização já é uma disciplina-chave em projetos
Os líderes da indústria já incluíram a digitalização como uma das disciplinas-chave nos projetos de engenharia. O objetivo é projetar e especificar os casos de uso necessários e sua governança para evitar taxas de licenciamento inflacionadas, perda de controle dos dados e alcançar as economias pretendidas.
A meta é uma empresa digital, em que as operações são supervisionadas de forma centralizada e remota, a eficiência operacional é otimizada com análises avançadas de dados e IA, e que esteja em um caminho sólido rumo a operações autônomas.
Você sabia?
O objetivo da digitalização industrial é criar uma “empresa digital” na qual:
- Todas as aplicações digitais impactam positivamente a lucratividade geral.
- Todos os dados de engenharia (ET), operacionais (OT) e de TI estão integrados e disponíveis para o desenvolvimento digital ágil, utilizando ferramentas e plataformas unificadas.
- Existe uma abordagem estruturada para gerenciar o desenvolvimento, a implementação e a manutenção de ferramentas e aplicações digitais.
- As operações são normalmente supervisionadas e otimizadas a partir de uma sala de controle centralizada.
- Os casos de uso digitais não se limitam apenas a visualizações e análises avançadas, mas a tomada de decisão dos operadores também é substituída por aplicações de Controle Avançado de Processos (APC).