Por Flavio Maeda*
Os dados se tornaram um dos recursos mais valiosos na nova economia digital, mas, para que tenham valor, eles precisam ser transformados em informações acionáveis. Na Indústria 4.0, esse trabalho é uma responsabilidade da Engenharia de Dados. Por meio dela, são definidas as estratégias que irão transformar a grande quantidade e variedade de dados provenientes das unidades de produção em informações úteis e de qualidade, tanto em projetos greenfield quanto em investimentos de CAPEX para a obtenção de melhorias operacionais e de sustentabilidade, incluindo eficiência energética, com menor uso dos recursos naturais e redução das emissões de gases de efeito estufa.
Nos novos empreendimentos industriais, o ideal é incluir a Engenharia de Dados já nos estágios iniciais do projeto para garantir o planejamento adequado da arquitetura dos dados. Assim, os investimentos e os esforços necessários para a transformação de dados em insights de negócio serão bem menores, evitando que o CAPEX seja mascarado e garantindo assertividade na execução do plano inicial.
Além disso, todos os envolvidos se beneficiam do armazenamento e da distribuição adequada das informações geradas pelas ferramentas digitais de engenharia ao longo de todas as fases do projeto, da construção ao seu comissionamento. Entre os benefícios, destacam-se a melhoria na colaboração, a redução de retrabalhos, o acesso mais rápido às informações e o melhor acompanhamento e gestão do projeto, que se traduzem em economias financeiras e de tempo.
Projetos brownfield
Estudos mostram que 80% dos esforços em projetos digitais – aqueles que envolvem, por exemplo, a aplicação de tecnologias de inteligência artificial e de gêmeos digitais – em empreendimentos industriais já existentes, também chamados projetos brownfield, são atualmente despendidos em atividades de Engenharia de Dados.
Estima-se, ainda, que apenas 3% a 5% do enorme volume de dados brutos gerados por sistemas de operação industrial são efetivamente utilizados e transformados em informação. Isso se deve à grande quantidade e variedade de sistemas legados, obtidos com base em diferentes protocolos e padrões de conectividade, fazendo com que a maior parte dos dados, por conta da existência de silos de informação não compartilhados, não esteja facilmente disponível para utilização por analistas e cientistas de dados. Por endereçar esses problemas, a Engenharia de Dados demonstra ser uma disciplina de suma importância.
E justamente pelo fato de que os dados apresentam grande valor econômico, eles estão cada vez mais presentes na agenda da alta gestão industrial e das áreas de Engenharia, Operações, Tecnologia da Informação e Inovação das empresas.
Nesse sentido, a Engenharia de Dados busca soluções para lidar com questões como evitar a perda de dados durante as diversas etapas dos projetos de engenharia, garantir o armazenamento, a segurança, a disponibilidade e a confiabilidade dos dados em todo o ciclo de vida dos empreendimentos industriais, além de possibilitar que análises e simulações, por exemplo, por meio do gêmeo digital (Digital Twin), sejam realizadas sem afetar a operação, e de forma totalmente segura.
Outro ponto fundamental é assegurar que a empresa detenha a soberania e a propriedade de todos os dados gerados, seja na fase de engenharia ou de operação de seus ativos industriais, e permitir que estejam contextualizados e sejam de fácil utilização, além de viabilizar a interoperabilidade dos sistemas por meio da utilização de padrões e protocolos abertos, sem criar silos de dados. Também é importante atuar para que os dados sejam compartilhados por todos aqueles que necessitam tomar decisões importantes para o negócio, tanto do ponto de vista de produção e manutenção, quanto da cadeia de suprimentos e da segurança.
Sem dúvida, a Engenharia de Dados está ajudando a remodelar as indústrias, e assim como em outros setores, suas decisões de negócios são cada vez mais baseadas em dados (data driven), com benefícios de ponta a ponta na cadeia de valor, desde a fase de pré-investimento até à operação de ativos, e apoiando as empresas na avaliação, na configuração, na transição e na otimização dos seus processos organizacionais, operacionais e digitais.
Por isso, é recomendável que as indústrias, em particular as de processo, possam contar com um parceiro de engenharia de confiança, que entenda não só do negócio e da complexidade da cadeia de valor na qual estão inseridas, mas que forneça insights acionáveis e suporte à digitalização nos níveis tático, operacional e estratégico para uma melhor gestão dos ativos e tomadas de decisões apoiadas por informações confiáveis e atualizadas.
Trata-se aqui de criar indústrias mais resilientes, que equilibram não apenas os fatores econômicos, mas também os sociais e ambientais, tudo fundamentado em tecnologias modernas, desde controle preditivo e previsão até aprendizado de máquina e soluções de IA, e um forte entendimento da sua aplicabilidade aos diferentes processos industriais.
(*) Flávio Maeda é Head de Serviços Digitais da AFRY para América Latina